Nova descoberta de peixe

Texto publicado no facebook pelo primeiro autor do trabalho. LEIAN e entenderão a importância do trabalho e a descoberta. Eu fotografei os bichos pra ele e posto aqui a foto do bicho. Macho maior e fêmea menor. Posto agora pois o artigo acaba de sair.
Publicado por meu amigo Waldir Miron no face:
As exceções sempre me fascinaram na Biologia. O que escapa do normal, o que é diferente, pode guardar os segredos para compreender as regras gerais. Às vezes, estes segredos podem estar mais perto do que se pensa.
Recentemente, tenho estado imerso no mundo enlameado dos manguezais, tentando compreender como um pequeno e "peculiar" (hermafrodita, canibal, anfíbio e assim por diante ..) peixe (Kryptolebias hermaphroditus) pode dar informações para a compreensão da evolução do sexo, e como genética e diversidade epigenética estão intrinsecamente relacionados às pressões ambientais. Para a nossa surpresa, durante mais uma aventura noturna no manguezal de Extremoz, cerca de 30km de Natal, nós encontramos um indivíduo com um fenótipo bem diferente. Ele tinha cor laranja brilhante que contrastava notavelmente com a água barrenta dos mangues. Este fenótipo também diferiu do padrão cinzento, típico dos hermafroditas. De alguma forma, concordou com a descrição geral do sexo masculino para as espécies relacionadas. Olhamos para ele com espanto. Esta espécie era conhecida por pelo menos 140 anos, e apesar das revisões taxonômicas, machos nunca haviam sido relatados. Dados genéticos anteriores tinham mostrado nenhuma ou muito pouca variação genética em populações desta espécie, o que levou os autores a concluir que esta espécie foi totalmente composta por hermafroditas. Então, o que nós tinhamos na mão? O que era aquele peixe laranja?
Tivemos que examiná-lo com cuidado, e depois de reunir mais informações, concluímos definitivamente que, sim, nós tinhamos um macho. O primeiro registrado nesta espécie! Estávamos animados, porém isso seria apenas o começo de uma longa jornada de perguntas. Será que estes peixes realmente fazem sexo (ou o macho é não-funcional e foi gerado por um estresse ambiental incomum)? Machos são necessários se hermafroditas auto-fecundandes geram proles perfeitamente viáveis? Talvez o sexo ocasional poderia impulsionar a variação genética em pressões ambientais difíceis? O que determinar quando e quantos machos? Quais são as implicações evolutivas do sexo, e por que é tão difundido na natureza?
Após ter este registro publicado (e com muita alegria compartilhado com vocês), eu pude perceber como um pequeno peixe foi capaz de me relembrar lições importantes sobre a ciência. Em primeiro lugar, uma regra geral na ciência, porém, às vezes facilmente esquecida. Como Carl Sagan diria: "Ausência de evidência não é evidência de ausência". Por nunca termos encontrado machos; isso não significa que eles nunca estiveram lá, desfrutando a vida. Nós não fomos apenas capazes de achá-los até o momento (ou não tivemos sorte suficiente). Em segundo lugar, a beleza da construção do conhecimento na ciência: a partir de informações básicas para perguntas maiores. Cada vez que uma nova descoberta é feita (por mais básica que possa parecer, como um macho em um peixe) dez novas perguntas são abertas. A ciência nunca para, e nunca irá parar. Nós nunca saberemos tudo, a persistência do desconhecido é o que nos motiva. Finalmente, uma lição mais pessoal. Um peixe foi capaz de me ensinar sobre a beleza das "exceções". Este minúsculo peixe me deu uma lição de humildade sobre o quanto é desconhecido. Me motivou a ir cada vez mais fundo no mundo particular do incomum. Citando Sagan novamente (mas não tendo 100% de certeza de sua autoria nesta): "Em algum lugar algo incrível está esperando para ser descoberto".

Segue o link do artigo : http://www.scielo.br/scielo.ph...