Gata-maracajá

Gata-maracajá (Leopardus wiedii) com seu filhote na casa da árvore.
Árvores antigas e frondosas possuem um valor singular no dia a dia dos carnívoros do Pampa. Essa importância foi descoberta por nossa equipe (Pró-Carnívoros e Projeto Gatos do Mato Brasil) através de inúmeros flagrantes fotográficos e observações visuais (auxiliadas pela rádio-telemetria VHF).
Ou seja, no Pampa, espécies de árvores como a figueira (Ficus sp.), o branquilho (Gymnanthes klotzschiana), o salso (Salix humboldtiana), a corticeira-do-banhado (Erythrina cristagalli L.), exercem esse papel singular, porem necessitam ter idade avançada, além de galhos e troncos na horizontal, bem como partes que formem forquilhas e ocos.
Notamos que toda a riqueza de carnívoros de um determinado ambiente costuma frequentar os mesmos vegetais superiores para alguma atividade social: marcação odorífera, latrinas protegidas do intemperismo, manutenção de garras, repouso aliviado de insetos, descanso alforriado de predadores ou competidores por território, abrigo para filhotes durante a ausência da mãe, esconderijo de caça abatida, cópulas, emboscadas, forrageio, e até mesmo como pontes. Em resumo, determinadas árvores atuam como Instagram e Facebook para os carnívoros locais.
Uma espécie de árvore pode não constar em lista de ameaça ou imunidade ao corte, porem pode constar na lista de preferência para as necessidades de espécies ameaçadas de extinção, sendo que a contrapartida desse papel ecológico não pode ser compensada pelo plantio de milhares de mudas, as quais levarão cerca de um século para exercerem o papel que uma única árvore madura e frondosa fazia antes de tombar.
Assim, o plantio de mudas como compensação ambiental, o manejo do corte seletivo, ou a supressão vegetal em zonas de empreendimentos deve atentar não somente para espécies vegetais imune ao corte, mas também para elementos vegetais de singular função ecológica no dia a dia dos predadores, sobretudo os ameaçados de extinção.
Com Felipe Peters e Marina Favarini.